FELIPPE D’ OLIVEIRA
(Santa Maria, 1890 – Paris, 1933)
Felippe Daudt de Oliveira nasceu em Santa Maria em 1890 e transferiu-se para Porto Alegre com doze anos de idade. Na companhia da mãe e irmãos, seguia o tio farmacêutico, João Daudt Filho. Na adolescência, aproxima-se da intelectualidade e passa a colaborar no Correio do Povo com críticas sobre teatro. Simpatizante do simbolismo integra o Grupo dos Sete, firmando sólida amizade com Álvaro Moreyra, Antônio Barreto, Homero Prates e Marcelo Gama.
Formou-se como farmacêutico em 1908, pela Faculdade Livre de Medicina e Farmácia, em Porto Alegre. Em 1910, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde, mais tarde, tornou-se um dos diretores dos Laboratórios Daudt, Oliveira e Cia. Lá, dedicou-se mais intensamente à literatura, participando da “Igrejinha” da revista Fon-Fon e publicando textos em jornais e revistas. Em 1911, publica Vida extinta, conjunto de poemas de características simbolistas. Nos anos vinte, sem abandonar a inspiração simbolista de cores e sensações, busca no colorido da paisagem e no movimento das máquinas os motivos modernistas que caracterizam Lanterna Verde, seu livro de 1926.
Foi exilado na França, ao apoiar, em 1932, a Revolução Constitucionalista. Sua morte prematura, vítima de acidente automobilístico em 1933, enseja entusiasmadas críticas de referências consagradas como Mário de Andrade e Tristão de Athayde. A Sociedade Felippe D’Oliveira, fundada em sua homenagem, publicou uma edição de inéditos (Últimos poemas) e reeditou suas obras. Em 1990, a editora da UFSM publicou a Obra Completa de Felippe D’Oliveira (reeditada, mais uma vez, em 2016).
TÍTULOS
POESIA
Vida extinta
1ª edição: Rio de Janeiro: Liga Marítima Brasileira, 1911.
2ª edição: Rio de Janeiro: Soc. Felippe D’ Oliveira, 1937.
Lanterna Verde
1ª edição: Rio de Janeiro: Ed. Pimenta de Mello e Cia., 1926.
2ª edição: Rio de Janeiro: Ed. Pimenta de Mello e Cia., 1933.
3ª edição: Rio de Janeiro: Soc. Felippe D’ Oliveira, 1936.
4ª edição: Santa Maria: UFSM/Prefeitura Municipal, 1980.
5° edição: Rio de Janeiro: Soc. Felippe D’ Oliveira, 1937.
6° edição: Rio de Janeiro: Soc. Felippe D’ Oliveira, 1938.
7° edição: Rio de Janeiro: Soc. Felippe D’ Oliveira, 1943.
8° edição: Rio de Janeiro: Soc. Felippe D’ Oliveira, 1944.
Alguns Poemas. Rio de Janeiro: Soc. Felippe D’ Oliveira, 1937.
TEATRO
Terra Cheia de Graça. Rio de Janeiro: Soc. Felippe D’ Oliveira, 1934.
PROSA
Livro Póstumo. Rio de Janeiro: Soc. Felippe D’ Oliveira, 1938.
OBRA COMPLETA
Felippe D’ Oliveira: Obra completa. (Org.: Lígia Militz da Costa, Maria Eunice Moreira, Pedro Brum Santos). Porto Alegre: IEL; Santa Maria: UFSM, 1990.
Felippe D’ Oliveira: Obra completa. 2ª ed (Org.: Lígia Militz da Costa, Maria Eunice Moreira, Pedro Brum Santos). Porto Alegre: IEL; Santa Maria: UFSM, 2016.
SELETA
Desafinamentos
Eu hoje estou com as crises de Cesário…
Abafo ímpetos bruscos, esquisitos…
O meu temperamento tumultuário
é um desconchavo doido de ais e gritos.
Vou para o sol, e os seus reflexos ruivos,
daflavescência acesa dos trigais,
tangem meus nervos desandando, aos uivos,
em desafinamentos sensoriais.
Quero coisas alegres, e a alegria
me embriaga como as eterizações…
Tento os trejeitos da buforenia
e em vez de gestos tenho crispações.
Da minha cara de caricatura
Foi-se a ironia acídula, vermelha…
E o espelho, a refleti-la, parda, escura,
A uma tela de Goya se assemelha.
De roê-las, trago as unhas em serrilhas,
E por andar vestido de palhaço,
quando arranho os cetins e as escumilhas,
sinto a carne rasgada a pontas de aço.
Por isso, desde que tu vieste, e insistes
numas carícias que me fazem mal,
rogo que percas os teus ares tristes
e que desculpes o meu tom brutal.
Deixa que, tonta, esta cabeça louca
em infrene histeria se conflagre:
os beijos acres, que me dás, a boca
sorve-os como se fossem de vinagre…
Fonte: Vida extinta