JOÃO DAUDT FILHO
(Santa Maria, 1858 – Rio de Janeiro, 1948)
João Daudt Filho transfere-se para o Rio de Janeiro em 1877, a fim de cursar Farmácia na Faculdade de Medicina. Diplomado em 1881, passa a ser o primeiro farmacêutico formado da história de Santa Maria. No ano de 1889, juntamente com um grupo de amigos santa-marienses, lidera a fundação do Theatro Treze de Maio e organiza uma sociedade dramática, da qual foi diretor e um dos atores. Exila-se na fronteira com a Argentina em 1892, por defender a condenação dos assassinos de seu cunhado, Felipe Alves de Oliveira, crime ocorrido dois anos antes. Mudando-se para Porto Alegre, em 1893, adquire estabelecimento na rua dos Andradas e passa a trabalhar com a manipulação de remédios. Daudt Filho, Alfredo Leal e Valença Appel projetam a criação da Escola de Farmácia, da qual origina-se a Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Revelando êxito no pioneirismo da propaganda, em 1912, Daudt muda a sede de seus negócios para o Rio de Janeiro. Em 1933 sofre duro golpe com a morte trágica de seu sobrinho Felippe D’Oliveira, vítima de um acidente automobilístico, na França. Um pouco depois, em 1936, registra esta e outras passagens de sua longa existência em volume intitulado Memórias. Aos noventa anos, em 22 de novembro de 1948, João Daudt Filho morre no Rio de Janeiro, pouco antes da publicação já revisada, da terceira edição de suas Memórias. Em 2003, a editora da UFSM publicou a quarta edição da referida obra.
TÍTULO
DAUDT FILHO, João. Memórias. 4.ed. Santa Maria: UFSM, 2003.
SELETA
“A 20 de junho de 1948, atingi as noventa “primaveras”, idade não muito comum neste século agitado que estamos vivendo. Não desmenti, assim, a tradição de longevidade de minha família, a que tive ocasião de me referir no início destas Memórias. (…)
No fim destas histórias, que fizeram a história da minha vida, uma dúvida me vem, de súbito: – não imaginarão os leitores que sou um velho vaidoso? Fico meditando. E me convenço que ninguém poderá supor tal pecado em mim, que cheguei aos noventa anos, sem nunca descansar, sempre mudando de lutas. O que escrevi é a autobiografia de alguém que trouxe para o mundo o destino de uma atividade contínua, em dias felizes e em dias desgraçados, no bom e no mau tempo. Agora, ao termo da jornada, creio que a existência assim, inicialmente narrada apenas para exemplo dos meus descendentes, poderá fazer muitas lições a todos os homens. Eis por que me interesso de ser lido, sobretudo pelos moços. Nunca um elogio de qualquer ação minha foi feito pela minha pena. Sempre as referências otimistas a meu respeito tiveram, antes delas, dois pontos e, depois delas, outras assinaturas. Entendo que todo homem de vida longa, que possua alguma cultura e esteja no uso do seu perfeito raciocínio, deve fazer o que eu fiz. As experiências humanas servem aos que vêm em seguida. Elas, juntas, constituem a história de uma época, a história de um povo. Contei aqui o que pode realizar um rio-grandense, um brasileiro, um homem que enfrentou a vida sempre confiante em si mesmo”. (p. 207-210).
DAUDT FILHO, João. Memórias. Org. Pedro Brum Santos. 4.ed. Santa Maria: UFSM, 2003.