REYNALDO MOURA
(Santa Maria, 1900 – Porto Alegre, 1965)
Foi jornalista, ensaísta, poeta e romancista. Ainda produziu crônicas e novelas. De acordo com Regina Zilberman, Reynaldo Moura é responsável por introduzir o romance psicológico no Rio Grande do Sul, com A Ronda dos Anjos Sensuais, seu livro de estreia. Como poeta, é considerado modernista, mas adota características simbolistas. Sua poesia, segundo Maria Luiza Remédios, apresenta-se “marcada pela temática individualista, de apreensão sensorial de um mundo decadente em que o homem procura desvelar a sua realidade mais real que está por trás da realidade aparente”. Como escritor de ficção, mostra-se um autor de prosa introspectiva, com personagens que revelam sua angústia existencial. A trama de suas novelas sustenta-se nos componentes psíquicos dos protagonistas. Abordou temas como a homossexualidade, o aborto, o uso de drogas, a morte, a incomunicabilidade e a perda de identificação do homem. Faleceu em Porto Alegre, em 1965.
TÍTULOS
FICÇÃO
A Ronda dos Anjos Sensuais, 1935.
Um rosto noturno, 1946.
Romance no Rio Grande, 1958.
A Estranha Visita, 1968.
O Crime no Apartamento, 1995.
POESIA
Outono, 1936.
Mar do tempo, 1944.
REFERÊNCIAS CRÍTICAS
REMÉDIOS, Maria Luiza Ritzel. Reynaldo Moura. Porto Alegre: IEL, 1989. Coleção Letras Rio-Grandenses.
SCHNEIDER, Elenor J. As vozes inquietas de Reynaldo Moura.Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1996.
SELETA
Mulher nua
A água outonal é óleo azul transparente tranquilo
Sob o oiro da tarde inquieta entre os loureiros tristes
A solidão do parque estende sobre as tardes abandonadas
Um véu de silêncio melancólico
Branco e profundo como o movimento ascendente de uma medusa
Quase velado pelo vidro azulado das águas
O corpo nu vem ascendendo e destrói a placidez da piscina
Crea na superfície pétalas de ondas
Agita a lâmina fugitiva do silêncio das águas
O corpo nu ondula a flor das águas que acordaram
O corpo alvo e brilhante está ágil e úmido
E de novo submerge
Entre eles e a tarde de oiro o azul líquido de novo escorre
Afunda mais
Brancos tentáculos relembram
Entre o escuro e o fundo e a flor azul das águas
No marulho mole dos pequenos turbilhões irisados
O movimento lento de uma medusa
Na câmara lenta e lânguida do aquário
Na tarde outonal os loureiros tranquilos
Estão doirados sobre a sonolência
Que vela o parque abandonado.
Retirado de: FIGUEIRA, Gaston. Poesía brasileña contemporânea (1920-1946) Crítica y antologia. Montevideo: Instituto de Cultura Uruguayo-Brasileño, 1947. 142 p. 18×23 cm. Col. A.M.