Roque Callage

ROQUE CALLAGE

(Santa Maria, 13 de dezembro de 1886 – Porto Alegre, 23 de maio de 1931)

      A infância de Callage teve como marco a Revolução Federalista, cuja eclosão, em 1893, tinha por objetivo a deposição de Júlio de Castilhos. Aos 22 anos publica Prosas de ontem, obra que não obteve sucesso. Em São Gabriel, trabalha como jornalista nos periódicos A Tribuna, O Comércio e O Diário da Tarde. Devido à atenção especial destinada ao Rio Grande do Sul, haja vista o esquecimento do estado diante da política da República Velha, o autor passou a ter um perfil de escritor regionalista, o que pode ser conferido nas obras Escombros (1910) e Terra Gaúcha (1914). A ligação de Roque Callage com Joaquim de Assis Brasil, contrários à posse de Júlio de Castilhos no governo do Estado, lhe rendeu a publicação da obra O Drama das Coxilhas (1923), na qual reúne os seus textos do jornal Correio do Povo escritos durante o episódio da campanha militar. Com a Revolução de 1930, liderada pelas forças gaúchas, muda-se o panorama sobre a República Velha, momento histórico que será tratado em Episódios da Revolução (1930). Em 1931, falece em decorrência de uma tuberculose pulmonar. Roque Callage foi, também, fundador da 1ª Associação Riograndense de Imprensa e do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.

TÍTULOS

Prosas de ontem (1908)

Escombros (1910)

Terra Gaúcha (1914)

Terra Natal (1914)

Crônicas e contos (1920)

Rincão (1921)

O Drama das Coxilhas (1923)

Vocabulário gaúcho (1926)

Quero-Quero (1927)

No Fogão do Gaúcho (1929)

Episódios da Revolução (1930)

REFERÊNCIAS CRÍTICAS

MACHADO, Propício da Silveira. Roque Callage. Vida, obra e antologia. Coleção Italo-Brasileira. Editora da UFRGS.

MARCHIORI, José Newton. MARCHIORI, Livone de Fátima. Introdução à reedição de “Prosas de Ontem”. Editora da UFSM, 2004.

Roque Callage (1886-1931) – Uma época do Rio Grande. Antologia. Porto Alegre: Relatório Ed. Serviços de Marketing, 1997

SPALDING, Walter. Construtores do Rio Grande. Livraria Editora Sulina, 1969.

SELETA

Sentinela alerta dia e noite, qual ronda altaneira da campina, o Quero-Quero é o representante da espécie que arremete, com coragem, a solidão. Quebra-a brioso, com valentia decisiva, e hei-lo pronto sempre ao primeiro sinal de alarme. Ao menor ruído, enche os espaços e as várzeas longas, com a onomatopéia estridente de quero, quero, quero!…

Assim o conheci, asism o conhecem todos que por aí andam no campo. Não mudou ainda a sua vida, não mudaram ainda os seus hábitos de atalaia intempestivo dos banhados e dos planos desertos.

Ninguém de memória fresca, sabido nas coisas simples, lá de fora, viajado na livre campanha destendida, o viu noutra atitude que não fosse essa, de bombeiro perscrutante das quebradas. Que o digam gaúchos do meu respeito, patrícias de meus pagos, filhos do mesmo rincão coroável, amigos da querência “Saudade” ou das baixadas da Porteirinha, no município onde nasci e de onde, taludo depois, rumei depois para outras terras, para outras bandas incertas, correndo mundo, como gente…

Quero-Quero!…

A quem escuta, assim, a cada passo atroando os ares com o alarido de sua garganta de aço, parece, pelos modos, ouví-lo num querer sofrêgo, todo um egoísmo vibrante que o puro pernalta crioulo espalha pelo vazio melancólico dos ermos. Engano, porém! Lá está limitada, restringida à existência agreste da terra, toda a justa razão de ser do seu querer: liberdade da própria campina em que vive; respeito ao seu lar modesto resumido numa macega, num banhado, numa encosta sossegada de lagoa…

E é tudo o que o Quero-Quero quer… […]

(Excerto do conto Quero-quero)